Ahmad Ashkar, o empreendedor de 2018, quer mudar o mundo
- sameer qarout
- Jun 20
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Para ter chances de levantar a taça da Hult Prize Foundation, braço filantrópico da fundação criada pelo bilionário Bertil Hult que premia anualmente jovens empreendedores ao redor do mundo, é preciso pensar grande. E em grandes problemas. Em 2017, por exemplo, os participantes tiveram que desenvolver negócios que impactassem a vida de ao menos 1 milhão de refugiados em cinco anos. Já na edição do prêmio que aconteceu em setembro, garotas e garotos foram desafiados a criar empreendimentos capazes de usar inovações em energia que mudassem a vida de 10 milhões de pessoas até 2025.
A vencedora desta última edição foi a Rice Inc., uma empresa fundada por alunos da University College, em Londres, que oferece a pequenos produtores de arroz no sudeste asiático soluções eficientes para secar e armazenar o produto. Esse maquinário garante que 20% do arroz que seria jogado fora sem acesso ao devido tratamento entre no mercado - e considerando que 70% do alimento na região vem de pequenas fazendas, está explicado seu amplo impacto.
Hoje, a Hult Prize Foundation já alcança mais de um milhão de estudantes - algo entre 35 a 50 mil destes se inscrevem para a competição a cada ano - e já distribuiu mais de US$ 10 milhões a projetos vencedores de todo canto do mundo. Em 2018 a fundação foi a empresa mais inovadora segundo a Fast Company. Já seu fundador, Ahmad Ashkar, foi destacado como Empreendedor do Ano pela GQ Mexico em 2017.
Ahmad, antes de tudo, tem pinta de playboy. Em almoço com a GQ Brasil, o ex-corretor financeiro transformado em empreendedor de impacto exibia uma fala decidida, riso fácil, um gosto particular mas meio infantil por comida e um entusiasmo comedido quando surpreendido por uma cantada vinda da rua - o visual meio Tom Hardy meio Vale do Silício talvez tenha ajudado. Mas ele vem de um molde completamente diferente, cujas raízes estão cavadas quilômetros de distância de qualquer pólo financeiro tradicional.
“Meus parentes emigraram para os Estados Unidos nos anos 70, vindos da Palestina”, conta Ahmad. “Meus tios eram famosos comerciantes de cabras na Cisjordânia”.

Sua vontade de empreender no ramo social veio depois da crise das hipotecas, que em 2018 solapou sua carreira no mercado financeiro em Nova Iorque, mas fez surgir o dilema que informaria os seus próximos 10 anos: “Eu era viciado em fazer dinheiro”, diz. A vida não poderia ser só isso. Tão rápido quanto a dissolução de sua firma, que aconteceu quase da noite pro dia, Ahmad conheceu Bertil Hult, dono da empresa EF Education First, em 2009, durante um curso na Hult Business School, ergueu a Prize Hult Foundation e estava apertando a mão do ex-presidente Bill Clinton no mesmo ano - a Fundação Clinton é parceira de Ahmad e equipe, assim como as Nações Unidas, cujo prédio em NY sedia a última etapa da premiação.
Se por um lado, Ahmad se preocupava com o problema de pensar só em dinheiro, por outro ele busca um futuro em que empreendedores vejam trabalho humanitário e capitalista como duas partes de uma única coisa “Eu sempre conto para as pessoas: ‘Se você quer ser rico e famoso, você pode ser, basta ajudar o mundo. Auxiliar a humanidade é uma passagem só de ida para o estrelato, para fazer dinheiro, então por que se preocupar com qualquer outra coisa?’”
“Impacto é o futuro não por ser só algo desejável, mas por ser tendência”, diz Ahmad, que também é conselheiro do programa de desenvolvimento da ONU. “O mundo estando em um estado de crise que jamais foi visto, termos alcançado esse volume de pessoas que precisam de comida, acesso à moradia, à internet e banda larga - a população mundial está ultrapassando nossa capacidade tecnológica e de inovação”.
Para o empresário, há ainda uma questão geracional em jogo. “Uns 7 entre 10 millennials escolhem marcas que estejam afinadas com a questão do impacto. Se você quiser entrar na deles, que por sinal serão um grupo que vai controlar 30 trilhões de dólares na maior transferência de riqueza intergeracional na história, você precisa ter impacto.” É nessa toada que o empresário também fundou em 2016 a Falafel Inc., restaurante que emprega refugiados e que, em 2018, foi uma das marcas mais bem sucedidas entre millennials em Washington DC, além do restaurante #1 por voto popular no Yelp. “Nosso sucesso vem do fato que todo dólar que você gasta em nossas lojas é um dólar que vai para alimentar pessoas em situação de refúgio”, conta o empresário.
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